"O universo parece brincar de desencaixar, enquanto a vida só sabe obedecer."

maio 30, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte I

   Estava tão decidida, mas ainda assim se sentia tão aflita quanto medrosa. Não é incomum o medo do desconhecido, não se pode prever o que tem logo ali, onde não se consegue ver. Mas o medo foi feito para ser vencido, ao menos era isso que forçava-se a repetir tantas vezes quanto pudera. Não conseguiu se auto-convencer, se sentiu envergonhada, preferiu se trancar numa realidade paralela e se desprendeu da sua própria. Foi assim, aliás, é assim.
   Diferente de toda e qualquer estrela que já se ouviu falar, essa pequena estrelinha não se desprendeu do nosso querido e zeloso Céu por amor ao esplêndido e convidativo Mar. Essa estrelinha caiu por amor ao que se quer sabia o que era, ao desconhecido que vivia no Mar, o desconhecido pedacinho esverdeado que passava despercebido pelos outros astros.
   Se fez cadente. Caiu por amor ao que agora conhece bem, a Terra.
   O Mar, ao receber uma estrela torna-a estrela-do-mar, seres um tanto quanto diferente do que eram, mas tão acolhidos e amados que sequer se importam. Já a distinta Terra acolhe seus nobres visitantes de uma maneira muito mais perspicaz. Estrelas que chegam à Terra se misturam com o barro e tornam-se seres humanos.

maio 13, 2010

Retalhos contados

   Eram várias vezes, ao acabar de nascer estrelinhas já se chocavam com aquele imenso planeta azul. Ah, o mar. Era como chamavam o planeta, aliás, provavelmente ainda o chamam assim.
   Pense numa imensidão, é assim onde vivem as estrelas. Estrelas não tem cérebro, não sentem nada. Ou melhor, sentem, mas de uma forma diferentíssima. Estrelas podem sentir o amor. Não como se entende por aqui. Mas acho que elas sentem o amor como ele realmente é.
   É difícil descrever a vida de uma estrela, o que se sabe é que é o ser mais brilhante que existe, mais até que o sol. Brilham mais do que podem, mais do que a própria vida. E ainda são os seres mais apaixonados.
   Ah, o mar. Muitas e muitas estrelas se apaixonam perdidamente por ele. Volta e meia se pode ver uma estrela cadente se entregando ao seu amor.
   Ah, o mar. Tão grande, tão formoso mesmo sem forma. Lisonjeado, acolhe cada estrelinha com o mais cuidadoso carinho. Estrelas-do-mar ao se 'cortarem' não se reconstituem por mero feito do acaso.
  Eu desci por amor ao mar, mas cai aqui. Sorte?