"O universo parece brincar de desencaixar, enquanto a vida só sabe obedecer."

julho 31, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte IV

   Até aqui, a estrela tinha superado tudo que encontrara, mas agora, sentiu pela primeira vez o cortante medo. Ao se aventurar no mundo em que existia milhares iguais a ela, não houve tempo de pensar nada, estava muito confusa. As pessoas, assim nós chamamos, são seres frios e individuais. A estrela não teve sucesso em nenhuma tentativa de aproximação. Uma vez apareceu um rapaz todo de azul e com um bastão nas mãos, e a machucou tanto, que a estrelinha passou a evitar pessoas. 
   Tentou achar o caminho de volta para floresta, não conseguiu. Cá estava passando fome, frio e insegurança incontrolável. Começou a definhar em si mesma. Pensamentos de ódio rondaram sua cabeça, mas se limitou a lamentar-se. Lamentou não ter amado a Terra como ela merecia. E lamentou a existência de seres como ela.
   Quando já estava fraca o suficiente, conseguiu achar de novo a floresta. Mas sem forças para sobreviver, abraçou a Terra como podia, pediu desculpas e chorou incansavelmente. Naquele dia, a Terra se irritou. Aconteceu o que agora conhecemos como terremoto. A Terra engoliu o corpo da estrelinha e com os últimos suspiros de vida  transformou-na em uma semente. A estrelinha agora era inferior ao que era antes, não conseguia se expressar, mas mesmo assim, não se tem dúvida de que está a mais feliz.
Fim.

julho 10, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte III

  Aprendeu muito. Descobriu a fome, a sede, o sono, o frio, o calor e, ainda, uma solução para tudo. Descobriu a utilidade de árvores, as vantagens e riscos dos animais. O que ainda não tinha descoberto é que não era única. Achava-se superior, imperatriz da selva, não tinha visto nenhum animal com habilidades como as  suas. Urrava, gritava, ria, corria.
  Não tinha descoberto casa, talvez porque nunca precisara, e assim cabia numa perfeita nômade selvagem. Punha-se a andar e andar e andar. Em uma dessas andanças ficou por demasiado surpresa. Achara, até então, que já tinha descoberto de tudo. No entanto, agora, via-se diante de muitos outros mistérios a ser desvendados. 
 A estrelinha não sabia, mas tinha caído numa floresta. Não poderia ter caído em lugar melhor. E por andar e andar e andar, acabara por estar a 'porta' de um outro lugar, o que, para nós, é a civilização. Ah, pobre estrelinha! Não sabia se sentia medo ou se ficava felicíssima. Via que não era mais única, existiam muitos outros como ela e eles eram  estranhos pois faziam sons e se entendiam com barulhos, sinais. Tinha trocentas coisas que não fazia a mínima idéia do que podia ser. Não esperou nem mais um segundo, invadiu aquele mundo e pôs-se a descobrir.