"O universo parece brincar de desencaixar, enquanto a vida só sabe obedecer."

setembro 27, 2010

Chuva, seu abraço

   Tenho estado tão chafurdada nesse novo mundo que me desliguei do que já fui. O Céu até fez greve de abraços! Não é uma peculiaridade minha, os sereszinhos daqui comumente esquecem rápido das coisas. Temo por um dia me desligar por completo de tudo e num golpe de amnésia perca a razão e duvide da minha própria existência. Eu já vi disso por aqui.
   Céu, novamente te agradeço por seus abraços. Você ter voltado atrás foi fundamental pra eu não esquecer o quão é lindo viver.

julho 31, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte IV

   Até aqui, a estrela tinha superado tudo que encontrara, mas agora, sentiu pela primeira vez o cortante medo. Ao se aventurar no mundo em que existia milhares iguais a ela, não houve tempo de pensar nada, estava muito confusa. As pessoas, assim nós chamamos, são seres frios e individuais. A estrela não teve sucesso em nenhuma tentativa de aproximação. Uma vez apareceu um rapaz todo de azul e com um bastão nas mãos, e a machucou tanto, que a estrelinha passou a evitar pessoas. 
   Tentou achar o caminho de volta para floresta, não conseguiu. Cá estava passando fome, frio e insegurança incontrolável. Começou a definhar em si mesma. Pensamentos de ódio rondaram sua cabeça, mas se limitou a lamentar-se. Lamentou não ter amado a Terra como ela merecia. E lamentou a existência de seres como ela.
   Quando já estava fraca o suficiente, conseguiu achar de novo a floresta. Mas sem forças para sobreviver, abraçou a Terra como podia, pediu desculpas e chorou incansavelmente. Naquele dia, a Terra se irritou. Aconteceu o que agora conhecemos como terremoto. A Terra engoliu o corpo da estrelinha e com os últimos suspiros de vida  transformou-na em uma semente. A estrelinha agora era inferior ao que era antes, não conseguia se expressar, mas mesmo assim, não se tem dúvida de que está a mais feliz.
Fim.

julho 10, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte III

  Aprendeu muito. Descobriu a fome, a sede, o sono, o frio, o calor e, ainda, uma solução para tudo. Descobriu a utilidade de árvores, as vantagens e riscos dos animais. O que ainda não tinha descoberto é que não era única. Achava-se superior, imperatriz da selva, não tinha visto nenhum animal com habilidades como as  suas. Urrava, gritava, ria, corria.
  Não tinha descoberto casa, talvez porque nunca precisara, e assim cabia numa perfeita nômade selvagem. Punha-se a andar e andar e andar. Em uma dessas andanças ficou por demasiado surpresa. Achara, até então, que já tinha descoberto de tudo. No entanto, agora, via-se diante de muitos outros mistérios a ser desvendados. 
 A estrelinha não sabia, mas tinha caído numa floresta. Não poderia ter caído em lugar melhor. E por andar e andar e andar, acabara por estar a 'porta' de um outro lugar, o que, para nós, é a civilização. Ah, pobre estrelinha! Não sabia se sentia medo ou se ficava felicíssima. Via que não era mais única, existiam muitos outros como ela e eles eram  estranhos pois faziam sons e se entendiam com barulhos, sinais. Tinha trocentas coisas que não fazia a mínima idéia do que podia ser. Não esperou nem mais um segundo, invadiu aquele mundo e pôs-se a descobrir.

junho 05, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte II

   Agora estava no tão amado pedacinho perdido no incrível mar. Sequer conseguia se conter, nem notara que tudo estava diferente. Se jogou ao chão e pôs se a brilhar. Ou tentou. Sentiu seu corpo molhado, aliás, sentiu
   Estrelas não sentem, ao menos não como os sereszinhos daqui da Terra. Mas cá a estrela singular já podia sentir, pensar, deduzir, saber, se mover e um montão de outras coisas que a deixaram mais feliz do que jamais pensara em estar. Nem se importou em não poder mais brilhar. A Terra, a acolhedora, dera a ela um novo corpo e algo para governá-lo, um cérebro que permitia a ela todas as sensações do mundo. A pobre estrelinha ainda não sabia o usar bem, mas aprendia com tamanha facilidade que passava a amar tanto a descoberta que deixava esfacelar o tão nobre amor que a fez cair pela Terra. 
    

maio 30, 2010

Conto de uma estrela singular - Parte I

   Estava tão decidida, mas ainda assim se sentia tão aflita quanto medrosa. Não é incomum o medo do desconhecido, não se pode prever o que tem logo ali, onde não se consegue ver. Mas o medo foi feito para ser vencido, ao menos era isso que forçava-se a repetir tantas vezes quanto pudera. Não conseguiu se auto-convencer, se sentiu envergonhada, preferiu se trancar numa realidade paralela e se desprendeu da sua própria. Foi assim, aliás, é assim.
   Diferente de toda e qualquer estrela que já se ouviu falar, essa pequena estrelinha não se desprendeu do nosso querido e zeloso Céu por amor ao esplêndido e convidativo Mar. Essa estrelinha caiu por amor ao que se quer sabia o que era, ao desconhecido que vivia no Mar, o desconhecido pedacinho esverdeado que passava despercebido pelos outros astros.
   Se fez cadente. Caiu por amor ao que agora conhece bem, a Terra.
   O Mar, ao receber uma estrela torna-a estrela-do-mar, seres um tanto quanto diferente do que eram, mas tão acolhidos e amados que sequer se importam. Já a distinta Terra acolhe seus nobres visitantes de uma maneira muito mais perspicaz. Estrelas que chegam à Terra se misturam com o barro e tornam-se seres humanos.

maio 13, 2010

Retalhos contados

   Eram várias vezes, ao acabar de nascer estrelinhas já se chocavam com aquele imenso planeta azul. Ah, o mar. Era como chamavam o planeta, aliás, provavelmente ainda o chamam assim.
   Pense numa imensidão, é assim onde vivem as estrelas. Estrelas não tem cérebro, não sentem nada. Ou melhor, sentem, mas de uma forma diferentíssima. Estrelas podem sentir o amor. Não como se entende por aqui. Mas acho que elas sentem o amor como ele realmente é.
   É difícil descrever a vida de uma estrela, o que se sabe é que é o ser mais brilhante que existe, mais até que o sol. Brilham mais do que podem, mais do que a própria vida. E ainda são os seres mais apaixonados.
   Ah, o mar. Muitas e muitas estrelas se apaixonam perdidamente por ele. Volta e meia se pode ver uma estrela cadente se entregando ao seu amor.
   Ah, o mar. Tão grande, tão formoso mesmo sem forma. Lisonjeado, acolhe cada estrelinha com o mais cuidadoso carinho. Estrelas-do-mar ao se 'cortarem' não se reconstituem por mero feito do acaso.
  Eu desci por amor ao mar, mas cai aqui. Sorte?

março 20, 2010

Cai, cai estrela

   Várias pessoinhas já desenvolveram trilhões de teorias sobre estrelas cadentes. O que ninguém sabe é que estrelas cadentes não realizam desejos. Na verdade elas só estão em busca da realização do próprio.
   No céu, o nosso querido céu, as estrelas nem imaginam que existam outros seres muito menos naquela incrível  bola achatada onde vive o mar. Aliás, estrelas não se 'mexem', não 'sentem', não 'olham', não são como os humanos (um dia eu conto). O que se precisa saber é que as estrelas ficam boa parte do tempo olhando para o mar. O incrível mar.
   Eu que já vivo na terra ainda consigo sustentar a idéia de quando estrela. O mar é mesmo incrível. Todas as estrelas amam o mar. Algumas reservam utopias e mirabolam planos. Não são muitas, nem tão poucas, mas existem várias estrelas que acabam amando tanto o mar que, literalmente, caem de amores.
   Num desejo um tanto quanto insano e sem saber o que se sucederá, estrelas abrem mão de tudo e vão largando sua luz, brilho e seguem em direção ao mar.Se tornam cadentes _em todos os sentidos. Foi assim que nasceram as estrelas-do-mar, o que não quer dizer que todas as estrelas-do-mar foram estrelas-do-céu antes.
  Nem todas as cadentes são bem sucedidas. Eu cai na terra por engano. Foi o melhor de todos os enganos, mas isso vou contar em outro conto.

março 15, 2010

   Eu sou uma estrela

fevereiro 23, 2010

Uma estrela e o Brilho

    Era uma vez uma estrelinha que vivia bem longe de onde deveria estar, o céu. Onde ela vivia, agora, haviam outros sereszinhos que também tinham luzeszinhas. Com o passar do tempo as luzeszinhas desses seres foram mudando e cada um tinha uma luz diferente e nesse novo lugar as luzes precisam ser iguais pra tudo ficar bem. A estrelinha tinha a luz mais forte de qualquer outra, pois era uma estrela. Ao ver o brilho dos outros sereszinhos se apagando ela se desesperou. Estrelas gostam de lugares harmoniosos.
   Num pensamento mais que insonte e ligeiro achou a solução avassaladora. Num silêncio a ação se fez, a estrela rapidamente tirou sua luszinha e a repartiu pelos sereszinhos que dormiam.
   O que aconteceu em seguida, a estrela já sabia, mas seu coração doía. Ao tirar sua luszinha abria mão, inevitavelmente, de viver com os sereszinhos que só viviam com quem tinha o brilho igual. E ela agora, nem brilho mais tinha.

fevereiro 02, 2010

Indolor saudade

   Tem dias que bate um aperto que faz o ar sumir, o coração quase fugir de tanto se espremer, acho que é saudade. Já ouvi tantas definições de saudade, algumas até parecidas com a que sinto, mas a minha não dói.
   Há quem diga que saudade mata, eu não acredito. Não é só porque minha saudade não dói que ela é pequena ou menor que qualquer outra, não. Saudade é pura, é doce, é uma gostosa lembrança.
  Tenho saudade de vocês, estrelas. Ainda bem que ao menos dá pra vê-las.

janeiro 25, 2010

Insonte amor

  Era só uma estrelinha. Ele nunca ligou, sempre cuidou de cada uma. E a família era grande, é grande. Um dia eu, que pra sua tristeza não fui a primeira, resolvi partir.
  Mesmo aqui, longe, ele ainda cuida. Me abraça.
  Acho que agora sei, seu amor é o maior, Céu.

janeiro 21, 2010

Doce abraço.

  Olhar o Céu. Tanto tempo longe, tanto tempo sem dar atenção. O coração, que agora é meu, aperta e se sente um 'cadinho só. Não, ele não hesita.
  Todo mundo pensa que ele chora. Mas afinal, o que entendem sobre ele? Tão cuidadoso e tão justo.Ele não chora, nem quando tá triste.Simplesmente, vem e nos faz companhia.
  Me abraça. Sempre que pode, me abraça.
  Obrigada por tudo, querido amigo Céu.